Ainda estamos no início do ano, mas já é comum ouvir nas rodas de conversas que as pessoas estão (ou continuam?) cansadas.

Mal terminamos o período de férias, e parece que o ritmo intenso e típico de um final de ano persiste, fazendo com que os dias de descanso virem grãozinhos de areia no meio de um mar de demandas. 

Esses movimentos fizeram com que nós aqui da Laborama entrássemos em um questionamento: será que esse ritmo é passageiro ou definitivo? E, sendo a 2a opção verdadeira: sabemos e conseguimos usufruir de maneira adequada dos períodos de pausa e descanso quando temos oportunidade?

Há alguns anos, falar em parar, tirar férias era quase inadequado. “Nós percebemos que o ritmo das pessoas nas empresas vinha muito acelerado. Mesmo antes da pandemia, relatos de angústia, pressão e insegurança eram frequentes nos nossos encontros” — Laila Palazzo, sócia e facilitadora da Laborama.

De fato, lá em 2018, os diagnósticos de estresse, depressão ou ansiedade já representavam 44% das doenças relacionadas ao trabalho. Ou seja, um grande impacto nos dias produtivos que já vem sendo, há algum tempo, perdidos por problemas de saúde emocional e psicológica. 

Saúde no trabalho e na vida

No podcast da CBN Professional, com Wellington Nogueira, fundador da ONG Doutores da Alegria, quando questionado sobre a relação entre os hospitais e o ambiente de uma empresa, respondeu: “no hospital as doenças estão sendo tratadas e fora delas elas estão sendo cultivadas”.

Não surpreende que o tema do momento nas organizações seja a segurança psicológica. “Já estava ficando evidente o nível de cansaço das pessoas, um esgotamento que em alguns já tinha representação física, mas em outros ainda estava no pensar, ou no sentir, trazendo dificuldade de manter o mesmo ritmo. Mas o ´ter que dar conta´ aliado à dificuldade em compartilhar demandas ou medo, de mostrar vulnerabilidade ainda eram uma barreira. A pandemia veio e deixou isso tudo mais latente” — Laila Palazzo, sócia e facilitadora da , Laborama.

A OMS classificou em 2019 o Burnout como uma doença, sendo que 90% da população mundial sofre com problemas relacionados ao stress no seu dia a dia, ou seja, uma epidemia.

Descansar é necessário

Enquanto estamos vivendo num círculo vicioso, correndo sem conseguir sair do lugar, temos pouco tempo para determinadas avaliações. Deixamos em segundo plano paradas frequentes e de qualidade que nos ajudam a estar de fato presentes. Um momento de descanso real, que nos permite ter insights valiosos.

Foi isso que aconteceu com a Stela, nossa facilitadora, durante o período de recesso no final do ano: “Muitas pessoas têm dificuldades em tirar férias, eu já fui uma delas. Nós não estamos acostumados a descansar. Parece sempre que precisamos buscar uma ocupação útil na vida até mesmo para o descanso” — afirmou Stela, que reconheceu a dificuldade que tem de simplesmente parar.

“Mesmo adotando práticas como a meditação, que considero essenciais para a minha vida, me percebo muitas vezes buscando ocupar as horas de descanso com leituras, documentários ou podcasts que me conectam com o trabalho. E aí a mente não descansa nunca, porque está sempre fazendo relações com a vida prática, profissional”, completou.

Stela também faz outra consideração: “Não deveríamos deixar para os dias de férias a responsabilidade de recarregar as energias necessárias para o ano todo. É importante ter motivação para descansar. E motivação é ter um motivo para agir, não precisa ser euforia. No meu caso, significa me dar conta que isso faz bem, que me sinto mais desperta, resgato a minha vitalidade e consigo ser uma pessoa melhor com quem eu convivo e para o mundo!”

Praticar o “dolce-far-niente”

Em uma tradução literária do italiano, o dolce-far-niente, seria o doce-não-fazer-nada. Assim como tudo na vida, talvez um bom começo para ter tempo para descansar seja um pouco de disciplina.

A revista revista Vida Simples, edição 234 de agosto de 2021, traz como reportagem de capa “Permita-se Desacelerar”. O texto elenca algumas dicas interessantes que compartilhamos aqui com alguns outros insights:

— Adequar o ritmo

Como já falamos, não é o ideal deixar para as férias ou dias de folga o momento exclusivo para o descanso. Precisamos de um treino. Então é importante ficar de olho na agenda. Se tiver um dia com muitas atividades, é pouco provável que sobre energia para fazer algo depois do expediente. E vamos combinar que ficar mortificado no sofá com o controle remoto na mão zapeando não é um bom exemplo de descanso. Organizar o dia com pequenos intervalos para respirar entre uma reunião e outra, dar tempo de responder as mensagens e sair às 18h com tudo “checked” ainda com disposição para uma caminhada, é uma delícia!

— Reduzir o volume da voz do autojulgamento

Vivemos sob a pressão de cumprir prazos, metas. Tudo é urgente, acelerado e ainda precisamos parecer belos e felizes. Assim, cada minuto precisa ser absolutamente assertivo. Só que aí temos a sensação de que a vida está passando rápido porque não conseguimos apreciar nada com tranquilidade e atenção. Precisamos lembrar que nós não estamos (ou não deveríamos estar) em uma competição. Tente diminuir o volume da voz do autojulgamento que insiste em impor condições que nem sempre levam em conta o que de fato importa ou aquilo que é mais saudável. Stela nos contou um episódio que representa bem essas escolhas: “Há alguns anos, uma amiga que tratava câncer me chamou para tomar sorvete no meio da tarde. Eu estava cheia de trabalho, mas decidi ir. Infelizmente ela não resistiu a doença e faleceu pouco depois. Há pouco retornei aquela sorveteria e me senti muito grata por ter, naquela época, me dado aquele tempo, no meio de uma tarde útil do verão, para tomar um sorvete com ela”.

— Escolha um hobby

Já a Laura, também sócia e facilitadora aqui da Laborama, foi surpreendida quando uma amiga a questionou sobre qual seria seu hobby. “Não soube responder aquela pergunta inesperada e me dei conta de que não tenho uma atividade que seja apenas por prazer.” Mesmo quando praticamos algum esporte ou uma atividade artística para relaxar, se esta escolha se transforma em competição, desgaste ou até mesmo dependente de remuneração, ela deixa de ser um hobby. Nesse sentido, sugerimos a leitura desse texto que traz uma reflexão muito interessante sobre o “fazer o que se ama”. Nele é possível perceber que nem sempre ser apaixonado pelo que se faz significa não ter ou viver estresse. 

Que tal começar agora? Pegue um café, dê uma caminhada sem celular, procure uma janela e apenas observe o que se passa na rua. Quando retornar ao trabalho, perceba a sua respiração por alguns instantes e só então retome as atividades. Certamente você estará com mais disposição para fazer suas entregas com a qualidade que você, a sua área ou organização merecem.

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