Olá, tudo bem por aí? Em 2020, quando o mundo nos virou de cabeça para baixo e nos exigiu mais adaptação do que nunca, nós criamos o LaboramaCast, uma série de podcasts com conteúdos especiais e muito relevantes para as organizações que desejam, ou já estejam construindo um novo futuro. Todos os podcasts estão nos principais canais de streaming (Apple Podcasts e Spotify) e, também, no YouTube. E, para propagar ainda mais estes conteúdos, trouxemos aqui para o blog um resumo de algumas dessas conversas. 

Nesse primeiro texto, abordamos o tema de Autogestão, cada vez mais presente no mundo corporativo. Conversamos com o Rodrigo Bergami, especialista no assunto, sobre como as empresas têm introduzido modelos de autogestão no dia a dia e, também, quais desafios e oportunidades que temos de desenvolvimento neste tema. Quer saber mais? Então, aproveite a leitura!

O que é a autogestão?

Muitas vezes, a gente conhece um termo, mas não sabe, na prática, o que significa. E isso também acontece na autogestão. Então, para não restar mais dúvidas: autogestão é a administração de uma organização pelos seus participantes. Nesse modelo, não existe a figura do ou da chefe como estamos acostumados; todas as pessoas da empresa participam das tomadas de decisões.

Mas, para Rodrigo, essa definição vai além: é preciso saber que autogestão é uma decisão consciente, ou seja, eu preciso decidir aderir à autogestão para, justamente, não aderir a uma moda. E isso se dá porque as pessoas, normalmente, não têm menos problemas e menos conflitos quando implementam a autogestão. Pelo contrário, essas duas coisas são ampliadas, o que, mais uma vez, reforça que essa é uma decisão que precisa ser interna e muito bem pensada.

Fundamentalmente, as pessoas que detêm o poder precisam ser os primeiros a viverem a autogestão, porque, assim, elas serão colocadas em situações de vulnerabilidade que não são comumente postas. Dessa forma o paradigma do “poder sobre”, sobre essa hierarquia engessada, sobre as importâncias de cargos que vemos hoje, começa a se quebrar. 

Ao vir desse lugar de poder, é dada a oportunidade de quem está em um cargo “menor” a tratar do assunto que ele tem domínio de igual para igual com alguém “hierarquicamente superior”. E, ao dar a coragem necessária a essa pessoa, nós podemos colocá-la em uma posição que ela possa sentir mais satisfação em estar ali. Para Rodrigo, “nós ainda vivemos uma incoerência entre o pensar e o querer, pois às vezes, na organização, uma pessoa quer algo, mas fica com receio, porque o sentir dela ainda fala e dá medo”.

Como me preparar, enquanto líder, para ajudar os times e promover o desenvolvimento humano nas organizações?

Historicamente, o desenvolvimento humano se dava em um universo muito mais local, mas hoje, com a revolução digital, isso é muito mais amplo, o que permite que a gente consiga olhar nossas vulnerabilidades, forças e necessidades com mais intensidade.

A humanidade saiu de uma posição muito hierárquica, como no Egito Antigo, e caminhou para chegar no momento em que começamos a viver hoje, onde  o ser humano necessita exercer sua individualidade.

Questões como “para quê eu faço o que eu faço?” volta e meia aparecem em nossa mente e, com a ajuda da autogestão, elas podem começar a ganhar respostas dentro de nós.

Para viver a autogestão nas organizações, é preciso saber como escolhemos fazer isso, sabendo que a forma de implementá-la varia muito de país para país, afinal, existem diferenças culturais. A chave é o senso de coletividade, ou seja, o que cada indivíduo quer ou pode fazer para que o que é desejado aconteça? É a respeito de escolhas e de um olhar sistêmico: para o eu e para o todo. Para o coletivo e para o indivíduo.

Hoje, a autogestão é possível de ser adotada em empresas de todos os portes Segundo Rodrigo, fora do Brasil, organizações com mais de 10 mil pessoas conseguem praticar a autogestão.

As empresas têm sido convidadas a olhar para os seus ecossistemas — falamos de pessoas internas e todos os stakeholders envolvidos —, porque as estratégias organizacionais não falam mais apenas sobre o seu negócio. Qualquer conselho administrativo, dos conservadores aos liberais, já começaram a olhar para o todo.

Rodrigo entende que, por maior e mais influente que seja uma organização, é muita pretensão colocá-la sozinha na tarefa de criar soluções para os problemas e necessidades do todo.  As pessoas já estão falando em como as empresas precisam trabalhar em rede. E a internet trouxe isso para a gente. A pandemia antecipou alguns comportamentos sociais em torno de 30 anos.

Por exemplo: hoje, não conseguimos mais procurar nosso gerente para perguntar o que fazer, porque ficamos em casa, já tendo que fazer. Aquelas conversas de corredor na hora do cafezinho, em que costumávamos trocar ideias, ter insights e até resolver simples demandas, não acontece mais. Hoje é feita uma reunião e, se a questão não é resolvida naquele momento, o assunto perdura, muitas vezes mais do que deveria.

Com isso, surgem  outras necessidades ao juntar dois pontos que são importantes na autogestão: responsabilidade e autoridade. Ao longo da história, fomos separando as duas coisas. A autoridade ficou apenas para a hierarquia, enquanto a responsabilidade ficou para quem realmente executa a tarefa.

E como aproximar cada vez mais autoridade e responsabilidade? Quem está com a responsabilidade de executar, também deveria ter a autoridade de decidir, por ser quem tem mais competências naquele assunto. As pessoas da equipe precisam ter liberdade para decidir aquilo que está dentro do que entendem mais.

Muitas vezes, acreditamos que para a autogestão acontecer em uma empresa, é necessário uma virada de chave por parte das pessoas, mas nem sempre conseguimos que seja assim, principalmente em uma organização mais bem estruturada. Às vezes, é preciso repensar a estrutura e planejar como se a organização fosse nova.

Existem níveis diferentes de autogestão?

Primeiro, dentro de uma organização, quem está em um alto cargo precisa estar profundamente comprometido com a autogestão. E, quando se fala em alto cargo, não é sobre a diretoria  de RH; precisa ser ancorado por quem comanda a empresa, o conselho administrativo. Isso porque ela é uma decisão estratégica, que influencia totalmente a cultura da organização.

Depois, é preciso entender o motivo para querer aderir à autogestão. “Inicialmente, essas pessoas serão as mais impactadas e mais incomodadas, porque antes elas eram as que davam respostas e agora elas serão as que farão perguntas”, diz Rodrigo.

As decisões, então, precisam ser tomadas cada vez mais na ponta e menos no centro e algumas pessoas têm muita dificuldade de se desprender disso, por causa do poder, mesmo que informal, que elas têm. E quando a gente fala de um processo de autogestão, não significa que não tem hierarquia. Tem. Mas o ponto-chave é que ela está mais ligada à competência que ao cargo ou à posição da pessoa na empresa.

Por exemplo, quem sou eu, enquanto CEO de uma empresa, para dizer como as pessoas vão limpar o ambiente e quais são os melhores produtos? As pessoas que limpam é que são as melhores para dizer isso. São elas que têm a responsabilidade e a autoridade para isso. Naquele momento, o CEO passa a ser, no máximo, a pessoa que vai perguntar como será feita a limpeza.

Por outro lado, também é preciso que aquele funcionário com um cargo “menor” chame para si a responsabilidade e, nesse ponto, entra uma questão cultural e geracional. Pessoas que nasceram na época da ditadura militar, por exemplo, têm muito mais talento para ouvir, para obedecer, executar, aprender e aceitar. Já as pessoas mais jovens têm mais disposição para negociar, de ser ouvidas para decidir como fazer e de participar das decisões — seja em casa, na vida acadêmica, no trabalho etc.

Como podemos aplicar a autogestão nas empresas?

Quando se fala em autogestão, algumas pessoas podem se confundir e pensar que cada um faz do seu jeito. Isso é anarquia e bagunça, não é autogestão. É preciso sair do comando-controle e ir para um processo de confiança.

E aqui a gente não está falando de confiança cega. As pessoas tendem a se confundir em relação a essas definições. Confiar não é entregar para Deus, para a liderança, isso é confiança cega; e a confiança é o equilíbrio entre confiança cega e desconfiança. Para confiar, é preciso ter acordos claros, é preciso combinar as coisas. Os colaboradores precisam saber do que eles dão conta e a gestão precisa saber o que está entregando às pessoas.

Então, um caminho interessante para começar a aderir à autogestão nas organizações é vendo onde há tensões que ela possa ajudar. A gestão orçamentária participativa, por exemplo, é um grande exercício para a organização já começar o processo de autogestão. Quando você começa a fazer experimentos com as pessoas, elas vivenciam — e tendem a responder muito bem à vivência.

Durante a conversa neste episódio do LaboramaCast, Rodrigo contou que existiam duas tensões em um local que ele trabalhou: a falta de produtos e a forma como as pessoas eram contratadas. Então, a ideia foi pegar esses problemas e trabalhar de uma forma colaborativa, envolvendo as pessoas. Porque, assim, elas podem  começar a perceber que elas também trazem significado para o trabalho delas e isso vai respondendo alguns daqueles questionamentos que já citamos acima, como “por que eu faço o que eu faço?” ou “Qual é o significado disso tudo?”. Também é papel da organização ajudar as pessoas a encontrarem esse significado na tarefa que ela está fazendo.

E a pergunta que pode ficar é “qual é, então, o novo papel da liderança nisso tudo?”. A resposta é que esse papel vai mudando. A liderança começa a, efetivamente, ter que realizar melhorias de processos e delegar essa responsabilidade. Os líderes são, afinal, os agentes de mudança e se a liderança não entender o seu papel nisso tudo, o processo acaba não acontecendo.

Para finalizar, a autogestão não é um modismo; é um caminho que permite o desenvolvimento das pessoas e, também, da própria organização. Afinal, o que é um CNPJ se não um conjunto de CPFs que faz o negócio acontecer? Ela é para todo mundo? Pode ser, mas é uma decisão que precisa ser consciente.

Se você ficou interessado em saber mais desta conversa, pode escutar o podcast completo aqui.

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